"Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.
Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.
Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato."

Lewis Carroll






segunda-feira, 27 de setembro de 2010

03/10/2010

As eleições estão aí e, como dizem as propagandas, está chegando a hora de decidir o futuro. Tal afirmação parece tão séria que soa de maneira assustadora, ou hilária dependendo do ponto de vista. A questão é que mesmo não nos dando conta, ou preferindo não acreditar, a cada eleição estamos ajudando na construção ou destruição do país, que a partir deste direito-dever chamado voto, onde expressamos os valores que julgamos mais relevantes, elencamos as importâncias e prioridades para nossa vida e a do próximo, estamos apostamos no conjunto de ideais e propostas personificados num sujeito, no governante, por exemplo.
Propagandas, promessas, sorrisos neste período pré eleitoral, são muito comuns fazendo termos a impressão de que cada indivíduo que pede nosso voto é extremamente capaz, bom, sincero, realmente comprometido com o país, com cada pessoa que nele mora. Penso que a análise ingênua e superficial que aplicamos na maioria das vezes é a verdadeira culpada por isso, mesmo que ocorra em virtude da falta de tempo, de interesse, entre outros, acaba por gerar um analfabetismo político imenso, fazendo-nos sentir, por vezes, perdidos e confusos no momento de discernir as idéias reais de cada candidato, suas "bandeiras", suas trajetórias, sua índole. Logicamente estou me referindo a pessoas que, assim como eu, possuem um interesse pelo tema, mas que não vivem intensamente o dia a dia da política em si, porém preocupam-se em não colocar seu voto, uma conquista, no lixo. Fica mais simples votar bem, ou votar consciente, quando nos propomos a pensar política, pensar o passado, o presente e almejar o futuro. Procurar obter a maior clareza possível sobre cada candidato que pede o voto, o que o mesmo já fez e o que pretende fazer, é o primeiro passo, mas também é válido reconhecer que quem salva o mundo é super herói.
Dizem que discutir religião, futebol, união e, política, são coisas impossíveis, pois cada um tem suas opiniões, mas questiono: como mudar algo sozinho, sem discussão, sem pesquisa, reflexão? Talvez a resposta seja a opção por simplesmente não mudar, simplesmente fechar os olhos para tudo o que acontece com a preguiça ou o pessimismo de que tudo é difícil, de nada adianta pensar, sonhar, ousar, acreditar. Irrito-me com pessoas que dizem que estes assuntos são imutáveis ou indiscutíveis, pois nesta fala vejo a caracterização do conformismo e do medo, medo de talvez ver-se desamparado quanto as suas crenças. Acredito que quando há respeito pelo ser humano, qualquer tema pode ser abordado, pois a discussão não tem o objetivo de converter ninguém a nada, ao menos não deveria ter, é uma nova fonte, um novo olhar. Assim o diálogo respeitoso e argumentativo, pode ser visto como uma ferramenta extremamente útil para repensar, reconhecer/sentir a força que temos como cidadãos, principalmente quando objetivamos aquilo que desejamos, relacionando com nossa vida, nossos planejamentos, bem como, quando conseguimos enxergar os demais, entre eles pessoas em situações cuja gravidade de condições e oportunidades são imensas, comparadas aos sujeitos da classe C, por exemplo. Tudo na vida implica em interesse, falando sem hipocrisia, mas acredito que pensar no bem comum, ou seja, fazer dele TAMBÉM o seu interesse, torne-se mais relevante, efetivo e justo no momento em que apertamos a tecla “confirma”, já que ninguém faz/vive/é nada sozinho e de desigualdades já estamos cheios. Para quem se importa somente com seu umbigo, não esqueça os resultados de uma sociedade desigual, que de alguma forma, mais cedo ou mais tarde seus reflexos irão “respingar”. Outro ponto que observo é o quanto deve ser maravilhoso para um candidato mal intencionado encontrar um "público" que não se interessa se ele troca coelho por lebre (não sei se é este o ditado, mas... haha) , assim ele continua sorrindo, falando os clichês, e pode, mesmo que de maneira subliminar, continuar mencionando suas propostas cheias de efeito colateral. Cabe a nós escolher bem e depois fiscalizar, cobrar, pois não adianta deter-se a reclamar dizendo que o Brasil não vai pra frente quando o pensamento é retrógrado, pessimista e, o pior, acomodado.

Atenção sempre...

Um comentário:

Vitória Bernardes disse...

ORGULHO... só pensei nessa palavra ao ler teu texto. Sem dúvidas, foi um dos melhores que li até então sobre o tema. Impor opinião é fácil, fazer pensar é admirável... Parabéns, pois foi o que fizeste! Teu texto é claro, simples, direto e lúcido
Ao lê-lo, lembrei do Saramago, que disse:
“Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de refexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, nao vamos a parte nenhuma”

Continue assim, enfrentando os desafios e as delícias da capacidade de verdadeiramente pensar!

Beijos,
Vi