Tem gente que guarda moedas, selos, outros potes... Eu guardo papéis.
Claro que não é qualquer folhinha não, mas tenho dificuldade de excluir das minhas gavetas provas, trabalhos, textos, cartas, fotos, cadernos. Então resolvi revirar aquilo que andava esquecido, fique claro que o objetivo era encontrar um texto escrito no semestre retrasado (2009/02). Abri pastas, folhei páginas, encontrei cadernos e anotações que me remeteram ao melhor período da minha vida até agora, o início da faculdade. Iniciei na Unisinos um curso chamado "História" sobre o qual pouco sabia e, pude notar em cada página do caderno o capricho e entusiasmo de um iniciante. Frases bem construídas, cores diferentes de caneta para ressaltar termos, ligações entre os assuntos, nomes de livros no cabeçalho e, alguns corações que de certo foram desenhados na ânsia pelo intervalo, que como "bixo" ainda insistia em denominar recreio.
Muitas coisas assinaladas lá me fizeram transportar para o momento que um dia escutei, estudei, li, discuti aquela aula. Com a ajuda da data sempre bem apresentada no canto direito da folha, pude fazer a "viagem" de maneira ainda mais fácil recordando quem eu era naquele período. Temos a habilidade de observar a mudança de 3ºs, mas esquecemos de lembrar que também mudamos. Crescemos, melhoramos, pioramos, escolhemos, vivemos de maneira nada previsível e quando podemos olhar pra trás conseguimos enxergar o quanto fomos fracos com antigos ideais, ou persistentes com outros. "Não sou mais aquela menina" e me questiono no que errei e acertei pra ser quem sou hoje, aliás, quem sou? (metamorfose... Certo!)
Aos 10 ainda vivia com preocupações infantis, sentia-me aquele ser especial e extremamente feliz, os problemas que conhecia eram somente os dos outros, dos meus pais, tios... E eles não me atingiam, pois minhas preocupações eram particulares e eu me via muito grande perante a tudo (o centro).
Aos 15, o ápice. O momento em que tudo aconteceu: Descobertas, ensino médio, novas percepções. Tu acaba vendo-se "obrigado" a começar a pensar no futuro, na escolha da profissão, em especial, mas até aí tudo bem essas angústias podem ser proteladas.
Finalmente, aos 20. Neste momento tu começa a vivenciar a maior parte das metas que construiu na adolescência, começa a trabalhar, tem liberdade pra determinadas coisas, algum dinheiro no bolso, amigos variados, decide e programa a vida de outra forma. Mas com certeza se senti muito pequeno perante a tudo, pois as possibilidades, exigências, problemas, opções são muito maiores.
Olhar de dentro pra fora é estranho e incompleto certamente, mas além dessas conclusões quase óbvias, observei nessa pequena viagem de 2 anos no tempo passado, que perdi basicamente a inocência. Inocência nas pessoas, nas cadeiras, nos planos. Isso parece trágico? Mas não é, faz parte e hoje acho engraçado lembrar o quanto tinha uma visão utópica das coisas.
O que ganhei? Mais clareza nos caminhos que tenho escolhido mais tranqüilidade no percurso, mais atenção com a intensidade que deposito em determinadas coisas e, a maior certeza que existe: Ainda mudarei muito e isso é só o começo.
É incrível o que alguns rabiscos podem fazer, o que o formato de uma letra pode dizer, o que um monte de papéis pode fazer sentir. Sentir hoje, ontem e, se bem armazenados, sempre!