"Podes dizer-me, por favor, que caminho devo seguir para sair daqui?
Isso depende muito de para onde queres ir - respondeu o gato.
Preocupa-me pouco aonde ir - disse Alice.
Nesse caso, pouco importa o caminho que sigas - replicou o gato."

Lewis Carroll






quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Garranchos

Somos constituídos por aquilo que nos incentiva e desafia através do meio que vivemos e, acredito que isso é mais forte que DNA.
Sempre gostei de ler/escrever/desenhar/falar/berrar/sorrir, talvez por DNA, pelo zodíaco, mas provavelmente e principalmente por influência da família e da mamys que já ensinava "a criança" de 2 anos a falar no plural e mais tarde acreditar que sabia ler (e brigar por isso com a professora) quando interpretava algumas imagens nos livros.
Mais que um ombro amigo, o caderno velho foi/é a ferramenta mais confortante e sincera que utilizo, pois como minha língua age mais rápido que meu cérebro e meu juízo de avaliação sobre as palavras que vou expulsar é lento, geralmente consigo ser sincera e racional quando escrevo, mas lógico que não menos enrolada ou contraditória...
Quando gostei do 2º "cara" da minha infância (puberdade, sei lá), por exemplo, comprei um diário no R$1,99, com cadeado e tal, e nele escrevia tudo sobre o guri e meus sentimentos estranhos para com aquela figura, mas como sempre, ele jamais soube do meu "amor", pois não gosto de demonstrar afeto até me sentir segura (segredinho hein). Lembro que meu pai leu e perguntou-me sobre minha paixonite (sim, esqueci de chavear) e quase morri de vergonha e desisti da tática.
Anos mais tarde quando os depoimentos começaram a ficar mais cabeludos criei um alfabeto com códigos (“aloka”) para poder continuar manifestando minhas inquietações sentimentais... Nunca gostei de dividir essas coisas com ninguém além das minhas amigas e meus "diários", pois o papel de "Brunica" sempre foi muito confortável e oportuno na minha casa (minha bolha familiar), pelo menos até certo momento...
Loucurinhas básicas passadas, comecei a redigir o que dava na telha e a me corresponder com minhas amigas/primas via correio e, NOSSA! O frio na barriga de abrir uma carta endereçada pra gente, que não seja conta do banco, é incrível, pois nela a atenção que a pessoa dirigiu pra ti transparece na letra, no cheiro, na cor, no papel utilizado. A experiência sempre foi ótima e penso em retomá-la.
Parece contraditório num mundo virtual? Talvez seja, pois estamos acostumados e viciados com a rapidez, as emoções/ações imediatas... Mas me questiono sobre o grau de honestidade e sentimento que respondemos as cobranças afobadas da rotina e, do quanto à tecnologia esta podando nossas habilidades criativas, podando nossa identidade gráfica, de expressão.
Deixar o punho ganhar vida é imprimir no papel o sentimento daquele momento, é passar a certeza da singularidade. Não sou contra a tecnologia, obviamente, mas as banalizações ou as simplificações que fazemos para suprir a falta de tempo para quem realmente importa no intuito de cumprir exigências entendidas muitas vezes como maiores ou mais urgentes, tornam-se privações que acredito minimizar a arte da exclusividade, da surpresa.
Sou a favor dos garranchos, daquele bilhete no guardanapo, daquele cartão/carta caprichado (a), daquela recordação amarelada, PRA SEMPRE.
Às vezes ganhamos emails lindos, mas com o tempo outros chegam e sobrepõe-se a ele até o mesmo cair no esquecimento, e quando o encontramos permite lembrarmo-nos da criatura que digitou somente pelo nome assinalado de modo padrão no final (já que muitos amores/amigos utilizam os mesmos clichês no texto).
As cartas são diferentes, carimbam a emoção em cada garrancho, ou em cada letra bem desenhada, remetendo de imediato ao "produtor" e, isso não tem preço. Arrependo-me das “lembranças” que um dia joguei fora por motivos imbecis, mas alegro-me quando vejo minhas caixas cheias de cartas, refletindo sentimentos, lembranças, momentos, pessoas...

Beijooos!

2 comentários:

Unknown disse...

E eram boas nossas cartas...

Blog do R O G E R disse...

Bruuu!! Que lindo...Alegrou minha manhã!
bjoo...